terça-feira, 23 de julho de 2013

Para quando setembro vier! Artigo de @ToniFigo1945

Há quem acredite que os livros de História são compostos inanimados de papel e tinta, guardados para “rirmos” dos usos, costumes e ideais dos nossos pais e avôs no passado, mostrando-lhes o quanto evoluímos e que vão sendo esquecidos e tornados obsoletos sob a poeira do tempo, e ao encher-se de mofo só terão como serventia a de alimentar traças. Mas é incrível como o próprio tempo, como se fosse um vendaval entrado pelas janelas de uma biblioteca, desarrumasse as prateleiras e os arremessasse ao chão e ali ao folheá-lhos violentamente se encarregasse de ressuscitar seus protagonistas e eventos e os catapultasse à “realidade dos nossos dias”. Foi o que aconteceu nesta semana, quando busquei comparar acontecimentos atuais com os de 50 anos atrás, nos idos de 1963, quando eu ainda na “ebulição da juventude” vivia aqueles “tempos efervescentes”, no Brasil e no Mundo e me veio às mãos um discurso, que como uma “bíblia” veio decretar os melhores anseios do ser humano. Vou manter a integra do discurso, inclusive a menção original dos lugares e protagonistas, para que o leitor o transforme em uma “oração mundial pela igualdade na liberdade”.

"Estou contente em me juntar a vocês neste dia, que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação. Cem anos atrás um grande americano do qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros, que tinham murchado nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros. Mas cem anos depois o Negro ainda não é livre. Cem anos depois a vida do Negro ainda esta tristemente aprisionada às algemas da segregação e às cadeias de discriminação. Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontra exilado em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.

De certo modo nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e da Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória da qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa de que todos os homens, sim, os homens negros e também os homens brancos teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundos, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes". Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes deoportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.

Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranquilizante do gradualismo. Agora é o tempo de transformar em realidade as promessas de democracia. Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial. Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus. Seria fatal para a nação negligenciar a urgência deste momento. Este verão sufocante de legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo.

Esses que esperam, que o Negro agora esteja contente, terão um violento despertar se a nação voltar-se aos seus negócios de sempre. Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo, que se dirige ao portal, que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser acusados de ações de injustiça. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto degenere em violência física. Uma vez mais nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e

maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra, que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram reconhecer que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram por entender que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa e que não se caminha só.

E como nós caminhamos, temos que fazer a promessa que sempre marcharemos avante. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os militantes dos direitos civis: "Quando vocês estarão satisfeitos?" Nós nunca estaremos satisfeitos, enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos, enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não puderem ter hospedagem nos motéis das estradas e nos hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos, enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não! Nós não estamos satisfeitos e não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza. Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de vocês vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhes deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos da brutalidade policial. Vocês são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com fé, pois o sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississipi, para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, para a Geórgia e para Louisiana. Voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixem cair no vale do desespero.

Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades do hoje e do amanhã, eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano. Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença e nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos. Que os homens são criados iguais. Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississipi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça. Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação, nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãos e irmãs. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados, os caminhos tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada, pois toda a carne estará unida. Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ser presos juntos, defender a liberdade juntos, e quem sabe nós seremos livres um dia. Este será o dia. Este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado: "Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto. Terra onde meus pais morreram terra do orgulho dos peregrinos, De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"

E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro. E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire. Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas de Nova York. Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pensilvânia. Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas Rockies cobertas de neve do Colorado. Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia. Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee. Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi. Em todas as montanhas há de se, ouvir o sino da liberdade. E

quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos, que ele soe em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir as mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:

"Livre afinal, livre afinal. Agradeço ao Deus Todo Poderoso, nós somos livres afinal."

Quanto existe de Brasil nas “palavras eternas” de Martin Luther King na Marcha sobre Washington no dia 28/08/1963? Ele não viveu para vê-lo, mas participou da sua “construção”

EU TENHO UM SONHO... Pense comigo!

Antonio Figueiredo
@ToniFigo1945
Brasileiro, Construtivista e Ativista Federalismo Parlamentarista Unicameral c/Voto Distrital Puro.
Salvador-Bahia-Brazil

Nenhum comentário:

Postar um comentário